segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

O Primeiro-Ministro que revelou documentos “top secret” da Agência de Segurança Nacional (ASN – EUA), depois de morto

11/1/2014, [*] Wayne Madsen, Strategic Culture
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Entreouvido de um “papagaio-de-pirata” durante a tradução na Vila Vudu: Nesse artigo, afinal, SE APRENDE que a notícia repetida no Portal Terra de que Snowden “deveria” ser enforcado foi “notícia” inventada pela rede FoxNews, produzida durante entrevista com um facínora. E as “notícias” de que Snowden “quer pedir” asilo ao Brasil e “promete” trocar informações por asilo foram invenções, simultâneas, da revista Exame e da Folha de S.Paulo, “interpretando” [só rindo!], uma carta que Snowden escreveu aos brasileiros (vide nota [1]).
Quem precisa do “jornalismo” brasileiro?

Vê-se claramente que quem precisa do “jornalismo” brasileiro é o Mercadante, o Paulo Bernardo, a Helena Chagas e demais membros da 5ª Coluna PETISTA alocados no Governo Federal... E na militância profissionalizada... Pobre Dilma! 
Castor Filho

Edward Snowden
Em entrevista à rede de televisão reacionária de direita Fox News, o ex-diretor da CIA James Woolsey disse [1] que:  

James Woolsey
(...) o alertador-vazador [orig. whistleblower] de documentos da Agência de Segurança Nacional dos EUA, Edward Snowden, deve ser processado por traição. Se condenado por tribunal de seus pares, deve ser enforcado, pendurado pelo pescoço até morrer.

Woolsey, notório conservador linha dura foi demitido do posto de diretor da CIA, pelo presidente Bill Clinton, em 1995. Clinton achava que Woolsey não fora suficientemente agressivo no trabalho de controlar os altos funcionários da CIA, no caso em que se descobriu que um alto funcionário da CIA, Aldrich Ames, trabalhara durante anos como agente da inteligência soviética. Muita gente dentro da CIA acredita que Woolsey temia que, se a CIA embarcasse em caçada massiva a possíveis “infiltrados”, outros agentes, particularmente os leais a Israel, país com o qual Woolsey mantinha relações suspeitamente próximas, seriam descobertos. Woolsey, é claro, é a última pessoa do mundo cuja opinião sobre o destino de Snowden mereça qualquer credibilidade.

Mas, sim, o destino de Snowden está sendo analisado nos mais altos escalões do governo dos EUA... Alguns, dentro da ASN-EUA entendem que o presidente Obama deva anistiar Snowden, se o autoexilado alertador-vazador concordar em não revelar mais segredos da ASN-EUA. Muitos especialistas em lei e direito entendem que tal anistia seria questionável em termos legais; e que pode não passar de armadilha, uma espécie de cenoura para atrair Snowden aos EUA, armadilha que pode resultar em prisão perpétua; ou, se Woolsey e seus amigos neoliberais encontrarem caminho desimpedido, pode levá-lo à pena de morte.

Apoiadores da ASN-EUA argumentam que Snowden teria causado dano irreparável à segurança nacional dos EUA e aliados, por ter fugido com, diz a imprensa, 50 a 60 mil documentos secretos da ASN-EUA. Seja como for, até agora nem 2% desse número estimado de documentos foram distribuídos para empresas de imprensa.

David Lange
Em 2006, outro indivíduo que tinha autorização de acesso a apenas uma pequena porção das operações de vigilância da ASN-EUA e de seus “Cinco Olhos” – países parceiros de inteligência dos EUA – revelou, postumamente, informação secreta. Mas, no caso desse indivíduo, David Lange, ele era ex-Primeiro Ministro de um dos países “Cinco Olhos”, a Nova Zelândia. E morrera um ano antes, em 2005.

Dia 15/1/2006, o jornal Sunday Star Times da Nova Zelândia noticiou que, entre os documentos arquivados do falecido Primeiro-Ministro Lange, havia um relatório de 31 páginas, “TOP SECRET UMBRA HANDLE VIA COMINT CHANNELS ONLY New Zealand Government Communications Security Bureau (GCSB)” [TOP SECRET, para ser lido exclusivamente pelo Gabinete de Segurança das Comunicações do Governo da Nova Zelândia], de comunicações que aquele gabinete interceptara para a ASN-EUA.

As comunicações haviam sido capturadas em duas grandes estações-alvos no Pacífico Sul e da Antártica. O governo da Nova Zelândia manteve as duas grandes estações de interceptação de comunicações em Waihopai e Tangimoana.

Waihopai, codinome IRONSAND, intercepta comunicações via satélite, de outros países da região trans-pacífico. O relatório anual 1985/86 do Gabinete de Segurança das Comunicações do Governo da Nova Zelândia registrava que, dentre outros alvos da vigilância havia telegramas diplomáticos da ONU. O relatório dizia também que, dentre as principais tarefas do Gabinete de Segurança das Comunicações do Governo da Nova Zelândia estava traduzir e analisar “a maior parte do tráfego bruto [recebido] de fontes do GCHQ/Agência de Segurança Nacional dos EUA”.

GCHQ é a a sigla de Government Communications Headquarters [Quartel-general das Comunicações do Governo] da Grã-Bretanha, a agência encarregada pela ASN-EUA para fazer “avançadas” [orig. surge] de bisbilhotagem-espionagem contra delegações de países do Conselho de Segurança da ONU antes de os EUA invadirem o Iraque. O comunicado no qual a ASN-EUA passou a tarefa aos britânicos foi vazado por uma analista da agência britânica, Katharine Gun, para empresas de imprensa britânicas. Adiante, as acusações contra Gun foram retiradas.

Depois que o sistema UMBRA foi divulgado por várias fontes, a ASN-EUA deixou de usá-lo. Foi substituído por classificações de grau de sigilo e segredo como TOP SECRET/COMINT [Top Secret/Comunicação Interna]/NOFORN [Not Foreigners (leitura proibida para estrangeiros)] e TOP SECRET/COMINT/X1.

Mapa do Pacífico Sul abrangida pela espionagem EUA-Inglaterra-Nova Zelândia
(clique na imagem para visualizar)
O relatório da Nova Zelândia também diz que a tarefa do Gabinete de Segurança das Comunicações do Governo da Nova Zelândia incluía “reportar sobre itens de inteligência derivados de mensagens de telex do Pacífico Sul em links de comunicação por satélite”. Acrescentava que “o trabalho de reportar foi acelerado durante o ano (...) Um total de 171 notificações foram reportadas, cobrindo as Ilhas Solomons, Fiji, Tonga e organizações internacionais que operavam no Pacífico. O tráfego bruto para o trabalho era fornecido pela ASN-EUA”.

O relatório também informava que o trabalho sobre 238 relatórios de inteligência do Gabinete de Segurança das Comunicações do Governo da Nova Zelândia, sobre telegramas diplomáticos japoneses interceptados” a partir do “tráfego bruto recebido das fontes GCHQ [britânica]/ASN-EUA”, estava sendo muito dificultado por causa de um novo sistema japonês de encriptação. “O governo japonês implementou um novo sistema de encriptação de alto nível [orig. a new high grade cypher system], que reduziu seriamente a produção final do Gabinete” – diz o relatório. O Gabinete de Segurança das Comunicações do Governo da Nova Zelândia “dependeu pesadamente do material do satélite França-Pacífico obtido e passado adiante”, para traduzir e analisar. Tráfego da diplomacia chinesa interceptado pela ASN-EUA e pelo GCHQ [britânico] era também enviado ao Gabinete de Segurança das Comunicações do Governo da Nova Zelândia para análise e tradução.

O relatório encontrado entre os documentos do falecido Primeiro-Ministro Lange da Nova Zelândia dizia que os alvos de Tangimoana em 1985 e 1986 eram “civis, navais e militares do Pacífico Sul francês; civis da Antártica francesa; diplomatas do Vietnã; diplomatas da Coreia do Norte; diplomatas do Egito; embarques da marinha mercante e pesquisa científica soviética; civis da Antártica soviética; pesqueiros soviéticos; marinha argentina; civis da Antártica não soviética (incluindo comunicações indianas e polonesas); diplomatas da Alemanha Oriental; diplomatas japoneses; diplomatas filipinos; Forças Armadas da África do Sul; diplomatas do Laos [e] diplomatas da ONU”. No geral, a estação de espionagem “deslocalizada” neozelandesa de Tangimoana interceptara 165.174 mensagens dos alvos a ela atribuídos, o que representava “um aumento de aproximadamente 37 mil mensagens, em comparação com os números de 84/85”. E o relatório acrescentava: “O trabalho sobre o alvo soviético aumentou 20% em relação ao ano anterior”.

O Gabinete de Segurança das Comunicações do Governo da Nova Zelândia era também responsável pela escuta das comunicações da Nova Caledônia e da Polinésia Francesa (ambos territórios franceses), Vanuatu, Kiribati, Nauru e Tuvalu. Dado que Waihopai interceptava a maior parte do tráfego Intelsat do Pacífico, as comunicações de Samoa norte-americana (cujos habitantes são cidadãos norte-americanos) estavam acessíveis para a ASN-EUA e os outros Cinco Olhos. Mas, por causa do papel da ASN-EUA como líder operacional da rede dos Cinco Olhos, a Nova Zelândia e, quase nos mesmos termos, Austrália, Grã-Bretanha e Canadá não tem acesso a inteligência da ASN-EU ou recebe de Waihopai/IRONSAND.

A inteligência inclui interceptar comunicações que partem de Niue e das Ilhas Cook (territórios da Nova Zelândia), Ilha Norfolk (território da Austrália) e Samoa (Samoa Ocidental).

Lange sempre acreditou que sua própria agência SIGINT, por ordens da ASN-EUA e dos norte-americanos não era clara com ele, sobre a extensão da vigilância sobre comunicações em seu país. Seus medos coincidiam com os do Primeiro-Ministro australiano, Gough Whitlam, que exigiu que os norte-americanos o informassem exatamente sobre a natureza das bases dos EUA na Austrália, incluindo a gigantesca base em Alice Springs. Lange e Whitlam foram ambos expelidos de seus respectivos gabinetes mediante “golpes constitucionais” nos quais se veem impressões digitais da CIA e da ASN-EUA.

O documento de Lange sobre a atividade de espionagem do Gabinete de Segurança das Comunicações do Governo da Nova Zelândia é muito parecido com o documento do Quartel-general de Comunicações de Governo britânico (GCHQ) vazado por Snowden e intitulado Bude Sigint Development Reports

Mohamed Ibn Chambas
O documento do GCHQ britânico delineia as interceptações pelo GCHQ/ASN-EUA na base de Bude, Cornwall, codinome CARBOY, e na base TIMBERLINE da ASN-EUA em Sugar Grove, West Virginia, das comunicações de: Mohamed Ibn Chambas, funcionário da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental [orig. Economic Community of West African States (ECOWAS)]; várias empresas em Pequim; da ONG Medecins du Monde; da UNICEF com base em Genebra e do Instituto de Pesquisa para o Desarmamento, da ONU; das empresas francesas Thales e Total; da embaixada alemã em Rwanda; de uma equipe estoniana de segurança da empresa Skype; de um embaixador francês; do Comissário Antitruste da União Europeia, Joaquin Almunia; do Primeiro-Ministro de Israel, Ehud Olmert; do Instituto de Física da Universidade Hebraica em Jerusalém; do Ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak; de ministérios alemães em Berlin; de links de comunicação alemã com Turquia e Georgia; e do Programa de Desenvolvimento da ONU (presidido por Helen Clark, do Partido Trabalhista do Primeiro-Ministro Lange).

Sejam as revelações-vazamentos de Lange em 2006, ou as revelações-vazamentos de Snowden em 2013, os documentos vazados que mostram a aliança de vigilância anglo-norte-americana só provam uma coisa: indivíduos, grandes e pequenos são “grampeados”, bisbilhotados, espionados, exclusivamente porque comunicam algo que os arapongas-bisbilhoteiros-espiões de agências de inteligência querem ouvir. Nada há aí que interesse ao contraterrorismo nem, sequer, à contrainteligência. É vigilância em nome da vigilância, pela obsessão de vigiar.
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Nota dos tradutores
[1] A matéria da FoxNews Ex-CIA director: Snowden should be ‘hanged’ if convicted for treason foi IMEDIATAMENTE repetida, em português, pelo portal Terra, em: Ex-chefe da CIA diz que Snowden deveria ser condenado à forca (matéria não assinada). Na Folha de S.Paulo, em matéria assinada por Fábio Zanini (Editor de “Mundo” \o/ \o/ \o/) inventa-se a “notícia” de que Snowden “quer” pedir asilo ao Brasil. E na revista Exame, do Grupo Abril, em matéria assinada por Beatriz Souza já se “noticia” que Snowden “vai pedir asilo ao Brasil”.

Pior jornalismo, IMPOSSÍVEL!.
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[*] Wayne Madsen é jornalista investigativo, autor e colunista. Tem cerca de vinte anos de experiência em questões de segurança. Como oficial da Marinha dos EUA projetou um dos primeiros programas de segurança de computadores para a Marinha os EUA. Tem sido comentarista freqüente da política de segurança nacional na Fox News e também nas redes ABC, NBC, CBS, PBS, CNN, BBC, Al Jazeera, e MS-NBC. Foi convidado a depor como testemunha perante a Câmara dos Deputados dos EUA, o Tribunal Penal da ONU para Ruanda, e num painel de investigação de terrorismo do governo francês. É membro da Sociedade de Jornalistas Profissionais (SPJ) e no National Press Club. Mora em Washington, DC.

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